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sábado, 3 de agosto de 2013

CULTURA INDÍGENA DE ANGRA DOS REIS / RJ: BREVE HISTÓRICO DOS GUARANIS MBYAS

BREVE HISTÓRICO DOS GUARANIS MBYAS
Seu João tem 82 anos, atual cacique pajé da aldeia, puxa da memória e conta a história de seu povo: “Eu vou começar quando nós vem de lá, de Santa Catarina, eu nasci lá em Santa Catarina.” Seu Salvador da Silva, o cacique anterior e pai de Seu João, saiu aqui do Rio de Janeiro para morar em Limeira, Santa Catarina. Das lembranças da infância, Seu João conta que a princípio havia muito mato em Limeira, e os Guaranis quase não tinham contato com o branco, não falavam sua língua: “eu nasci no meio da mata, meu pai, ele cacique, (...) naquele tempo quase não via-se um branco, então nós vivia assim no meio da mata (...) só precisava falar lá alguns nomes de objetos, da alimentação e não chamar o bem pelo mau, chamava algumas coisas, aí já é bom.”
Os guaranis viviam da venda do milho e do feijão que cultivavam em suas terras que eram férteis, mas terra menor, menor que a dos kaingang, que dividiam o território com eles. Eram duas nações dividindo um só território.
Em 1982 chega a FUNAI trazendo consigo a estrada e as casinhas madeira, construídas com a araucária da região, uma para cada família, assim, com a ajuda dos kaingang que sempre tiveram mais contato com os brancos, a FUNAI acabou com a reserva de araucária da região, fazendo casinhas e vendendo o restante construído um posto indígena: muito “kaingang  começou a levantar o posto indígena, aí que ele pediu pra nós ajudar também, aí nós ajudamos, eu ajudei desde criança, eu ajudei kaingang.”
Os kaingang eram maioria: “então nós temos um posto indígena (...) ele pertence dos dois tribos: “o guarani e o índio kaingang também, mas é maioria kaingang, a minha parte é mais menor (...) tinha chefe kaingang que comanda tudo, agora tinha cacique sempre, mas sempre foi menor que kaingang cacique guarani.” Os Guarani não tinham autonomia: “cacique do kaingang tem que orientar, e essas coisas sem a ordem deles não podia nem vender”. Então eles decidiram sair de Limeira, como conta também Seu Luiz, o vice-cacique: “houve desentendimento com guarani e kaingang também. A área é mais pequena do guarani, então a área dos kaingang era mais grande. Então o cacique dos kaingang queria tomar posse de toda a área. Então o guarani era mais pequena, então começava a entrar pela nossa, os kaingang, tinha mestiço kaingang também, com branco, então entrava mais para nossa área, cada vez ficava mais pequena. Eu sei que os guarani obsercam que não dava mais de ficar e resolvem sair também.”
Mudaram-se para o Paraná, para a Ilha da Cutinga; ilha onde já moravam duas famílias Guarani. Lá ficaram de 1982 a 1987. As lideranças, que eram as mesmas de Santa Catarina, agora livres do controle dos kaingang conseguiram fazer com que a tribo se organizasse melhor, de forma mais independente, num território só de guarani: “antes, quando kaingang mandavam em nós, cacique não podia fazer sozinho as coisas (...), então quando se organizava na ilha já era diferente.” Mas, “a terra não era boa, terra muito fraca também, e não tinha água, nem areia, água parada, não tinha jeito de viver.”, continua Seu Luiz.

Nessa época o cacique foi para São Paulo, para uma assembléia que reunia lideranças de todo o Brasil. Lá soube que os parentes que moravam em Bracuí (em Angra dos Reis / RJ) estavam quase perdendo a terra por falta de ocupação, só havia duas famílias vivendo no local, e nessas condições não havia jeito de demarcar a terra. Primeiro fez-se uma visita ao local e logo depois toda a tribo se mudou para Bracuí. Como o antigo cacique de Bracuí  havia falecido, seu João tornou-se então cacique da Tekoa Sapukai, que é como chamam a aldeia.
Começou a luta pela demarcação das terras do Bracuí, como conta Seu João: “Papel era o que não faltava (...) depois nós conseguimos a demarcação – acho que foi a organização do guarani, dos povos guarani do Brasil. (...) O Projeto de Demarcação que os índios conseguiram em Brasília, em 1988, o direito, vencemos no dia 23 de novembro de 1993, aí que o pessoal tava comentando, o pessoal da organização: daqui para frente vamos ver se lutamos mais para ver se consegue...” O próximo passo foi a auto-demarcação: “tem que fazer um movimento grande, fazer uma auto-demarcação, reunir com aldeia (...), com o pessoal de Mato Grosso do Sul também, com próprio Cayoá... e fizemos auto-demarcação, e para fazer auto-demarcação também fomos muito apoiado aqui com o prefeito (...) e as entidades também apoiaram muito, (...) conseguimos 36 deputados assinando a favor nosso. (...) Então aí não foi muito difícil, demarcamos a área logo, equipe da FUNAI veio para fazer demarcação deles. Até agora nossa área está demarcada e homologada (...)

Em 1996, as três terras indígenas existentes no Rio de Janeiro – terra indígena guarani do Bracuí, em Angra dos Reis; terra indígena Araponga e terra indígena Parati-Mirim, localizadas no município de Paraty – tiveram o processo de demarcação concluído e foram homologadas pelo Governo Federal, reconhecendo-as oficialmente como terras tradicionais do povo guarani, publicando no Diário Oficial da União os decretos que dão direito à posse permanente dessas terras aos Guaranis.
Atualmente os Guaranis administram, em parceria com várias instituições, os projetos que escolheram para desenvolver na comunidade, entre eles a escolha bilíngüe, que já produziu uma cartilha Guarani para alfabetização e um livro contando a história do contato com as outras pessoas.

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